Trapeiros de Emaús: 25 anos de atuação por uma sociedade consciente e acolhedora
"O Trapeiros de Emaús é um dos galhos da grande árvore plantada por Dom Helder aqui em Recife", comenta o ativista Luis Tenderini. O italiano, e sócio-fundador do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec), é responsável pela associação que completa, nesta segunda-feira (16), 25 anos de trabalho por uma sociedade mais consciente e acolhedora. “O primeiro sentimento que aflora ao completar estas mais de duas décadas de atuação é o de gratidão, alegria por tudo que conseguimos realizar nestes anos através da participação de muitos jovens e adultos que trabalharam e contribuíram para que nos firmássemos e melhorássemos nosso serviço para a sociedade. Então, o sentimento é de grande satisfação por ver que valeu a pena lutar esses anos todos para desenvolver a nossa missão.”
O Trapeiros de Emaús localizado em Dois Unidos, na Zona Norte do Recife, é um dos 400 espalhados em 40 países do mundo. Com o lema “Provocadores de Mudanças”, é filiado à Emaús Internacional, movimento fundado na França pelo sacerdote Abbe Pierre, e realiza um trabalho de coleta de objetos em desuso, recuperação e reciclagem dos mesmos em oficinas de reparo, e venda a preços simbólicos por meio de bazares comunitários. As comunidades Emaús, em todo o mundo, atuam em 5 eixos: Acolhida, daqueles que mais precisam; Trabalho, para que possam viver e a comunidade também; Partilha, pois todos os afazeres são partilhados, assim como os frutos destes; Serviços para os mais necessitados; e Missão Política, que é lutar por uma sociedade sem miséria e injustiça. Ao todo, o Trapeiros de Emaús atende 20 famílias recifenses e capacita, na Escola de Educação Profissional Luis Tenderini, mais de 200 jovens, em eletrônica, refrigeração, informática e eletricidade. “A gente trabalha para viver e trabalha mais um pouco para ajudar quem mais precisa. É por isso que no final do ano, no nosso balanço, tiramos 1.5% e manda para a sede do Emaús internacional, para que possamos ajudar o movimento a continuar a sua atividade com as pessoas necessitadas.”
A associação foi fundada na capital pernambucana em 1996 por Luis Tenderini a pedido (e insistência) de Dom Helder Camara. “Dom Helder tinha uma longa amizade com o fundador do Emaús internacional, eles se conheciam há décadas e coincidiam em suas visões de mundo. Como eu trabalhei com o Dom nas fronteiras, coordenando os projetos sociais implantados por ele, ele me lançou esse desafio”, relembra. O italiano não aceitou a missão de primeira, mas o Dom persistiu e o apresentou ao trabalho realizado nestas comunidades. Depois, Tenderini pôde passar alguns meses dentro de um grupo Emaús da periferia de Buenos Aires.
“Fui com a minha companheira. Nós passamos dois meses vivendo o cotidiano de uma comunidade como aquela e vimos como era a dinâmica. Na volta dessa viagem à Argentina, começamos a articular, conversando com pessoas conhecidas que poderiam nos ajudar nessa empreitada. Até que então, no dia dezesseis de agosto de noventa e seis, demos início oficialmente ao Emaús, na presença de Dom Helder e do próprio fundador internacional que estava em Recife.” Hoje, a iniciativa acumula o Título de Utilidade Pública Municipal, concedido pela Câmara de Vereadores do Recife, é membro do Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS e do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS. Recebeu a Medalha João Alfredo, do Tribunal Regional do Trabalho e a Medalha Leão do Norte da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.
Presente e futuro
Durante a pandemia da Covid-19, deflagrada em março de 2020 e que perdura até hoje, o Trapeiros de Emaús precisou recorrer à extensa rede de apoio formada internacionalmente entre as comunidades. “Temos uma vantagem muito grande, porque fazemos parte de um movimento internacional cujo a marca principal é a solidariedade, dentro e fora do movimento. Quando começou a crise mais forte da pandemia, durante os três meses que fomos obrigados a fechar e parar as nossas atividades, recebemos o apoio que nos permitiu pagar os salários dos trapeiros normalmente, mesmo sem poder trabalhar”, relembra Tenderini. “Quando retomamos, lentamente, as atividades, nos organizamos de uma forma que pudéssemos desenvolver o trabalho com todas as restrições. Ampliamos os bazares semanais, que de dois passaram para quatro, com agendamento prévio, afim de reduzir o número de pessoas no mesmo ambiente.”
“Um sinal muito positivo do vigor desse nosso trabalho, apesar da crise sanitária, é que nós estamos montando um projeto novo na área ambiental. Ele consiste em reciclar resíduos orgânicos, restos de alimentos que seriam jogados no lixo para gerar renda para o nosso grupo com a produção de gás metano, fertilizantes líquidos e adubo orgânico. Com isso, iremos reduzir a poluição e gerar renda”, explica o fundador, que comemora os êxitos e já olha para o futuro da comunidade. “Devemos isso a resposta que a sociedade nos deu ao longo destes anos. Tivemos aumento de doações, o que nos permite desenvolver nosso trabalho e beneficiar a comunidade local com os nossos bazares. Milhares de pessoas podem adquirir objetos úteis a preços muito baixos, porque conseguimos dar uma nova vida a esses objetos que seriam descartados e uma nova vida a quem realiza esse trabalho, os trapeiros. Não é uma missão cumprida, é uma missão que continua, mas que estamos conseguindo realizar de forma muito satisfatória”
Para doar e garantir a atuação desta importante associação, envie qualquer valor para a conta corrente do Santander, Associação dos Trapeiros de Emaús Recife, CNPJ: 01.491.957/0001-40, agencia: 4500, conta: Nº 13000140-2 ou pelo PIX: Chave por E-mail emausrecife@gmail.com.
Imagens: Escola de Educação Profissional Luis Tenderini / Arquivo
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