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Em cima da promessa

As mulheres que constroem a Vila independência

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Postes de tronco e futuras salas de estar

No dicionário, independência significa “estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade com relação a alguém ou algo”. Vila Independência não recebeu esse título à toa. As 150 famílias ocupantes do espaço, localizado em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, constroem seus lares, tijolo por tijolo, usando como base estruturas abandonadas pela prefeitura.  

O nome foi escolhido em conjunto, assim que chegaram ao local, há pouco mais de 20 anos. Elas e eles haviam sido expulsos de outra ocupação que formaram e, quando viram a necessidade de construir tudo novamente, começaram por um nome forte, que trouxesse a coragem para os dias que viriam. “Estávamos em outra área, aqui em Nova Descoberta mesmo, quando a polícia chegou com a reintegração de posse e colocou todo mundo pra fora. A gente decidiu descer para esse terreno, onde residimos agora”, explica Anderson Gugu, líder comunitário. “Determinamos o nome de Vila Independência pela questão da independência da comunidade; independência de moradia e familiar.” 

Em 2010, Anderson e os demais moradores e moradoras foram surpreendidos novamente, mas dessa vez com uma proposta que parecia interessante. Ficou acordada a construção de um habitacional onde haviam apenas pequenos barracos de plástico, que às vezes eram compartilhados por até 5 pessoas. Quase onze anos depois, o único vislumbre das edificações são as bases, que desenham no solo de Vila Independência e refletem o fantasma da promessa não cumprida.  

Independência também é substantivo feminino, assim como as palavras casa e luta. As mulheres de Vila Independência desempenham papéis importantes no lugar, seja como chefe dos lares, seja fazendo parte da comissão política para o ordenamento e desenvolvimento do espaço geográfico. Por isso, é impossível desvincular a história da comunidade da história das mulheres que a constroem.

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Maria das Graças, vitória e luta
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Maria das Graças tem um jeito irreverente que faz o seu nome se tornar propaganda de si. Fala alto, ri e brinca com todos que vai encontrando pelas ruas de Vila Independência, mostrando a intimidade que só temos com quem dividimos as dificuldades e alegrias. “Quando eu vim morar aqui eu tinha 21 anos, foi há uns bons anos atrás. Eu estava grávida e aqui tinha um barraquinho de plástico. Era só a madeira e o plástico mesmo, depois eu fui ajeitando e colocando os madeirites. Morei nesse barraquinho por nove anos. Depois a gente saiu. A prefeitura tirou a gente, nos botou no auxílio moradia e disse que ia dar as casas prontas, foi por isso que a gente foi. A gente ficou dez anos, quase onze, esperando. E o terreno aqui, sozinho, abandonado.” 

Enquanto estava afastada da sua casa, Maria foi para a Zona da Mata Sul de Pernambuco. “Você desempregada e sem casa pra morar é triste, né? Fui atrás da minha família, que mora em Escada. Mas a minha irmã também não está muito bem, mora em uma usina desativada, está difícil para ela também. Então voltei aqui para perto, estou morando no Alto Santa Tereza, na casa de uma amiga. Estava apenas com o auxílio moradia, sem emprego e precisando cuidar de dois filhos. Na época ela estava trabalhando, me acolheu e acolheu minha família, tenho nem como agradecer.” 

Foi esse tipo de apoio que inspirou. Percebendo que sem a atuação popular nada seria feito, Maria participou da retomada da área. “Montamos uma comissão com o nosso líder comunitário, Anderson Gugu. Voltamos e dividimos tudo direitinho, só não coube todo mundo porque a Prefeitura pôs um muro na parte de trás do terreno, perdemos bastante espaço. Agora estamos aqui, cada um na sua luta, cada um enfrentando as suas dificuldades.” 
 
Para conseguir fechar as contas do mês e ao mesmo tempo construir sua casa própria, precisa ser criativa. “Trabalho está difícil, material está caríssimo, então a gente vai se virando. Eu mesmo sou vendedora autônoma. Vendo umas coisinhas, pano de prato, lingerie, essas coisas e vou tentando me virar com o que eu ganho pra comprar um pouquinho de material e comprar alimento pra me sustentar e sustentar meus filhos e netos.” 
 
A família de Maria das Graças é sua maior motivação para transformar o antigo barraquinho de plástico em uma casa firme e própria. “O sonho do meu pai era que eu tivesse um lugar meu, e esse também é o meu sonho para meus filhos. Por isso compro tijolo por tijolo e me emociono com cada um”, comenta. “Não quero meus filhos longe de mim, então vou construindo devagarzinho, como dá. Mãe é que nem galinha, quer os filhos debaixo da asa. Quando terminar de fazer esses vãos daqui de baixo, vou aumentar e subir, fazer um primeiro andar, para que eles morem aqui.” 

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Rosângela Maria e a mansão

Rosângela Maria é bastante comunicativa e atuante na comissão de Vila Independência. Ela divide a casa com seus filhos e seu marido, Anderson Gugu, líder comunitário do local, a quem não deixa de corrigir e complementar durante as reuniões. Assim como os demais, Rosângela chegou muito jovem à ocupação, o que sem dúvida dá a ela propriedade para falar da necessidade e direito sobre aquele solo.  
 
“Na primeira vez que entrei na ocupação eu tinha 16 anos. Estava com meu esposo Anderson, porque ele tinha acabado de ficar desempregado e nos dois queríamos continuar com nossa independência. Então decidimos invadir nessa ocupação”, relembra. “Os primeiros anos foram gratificantes, com lutas e vitórias. Eu e meu esposo fizemos um grande barraco de lona e madeira bem divido, com cômodos bem divididos.” 

Por mais que a estrutura não fosse firme como cimento, aos olhos de Rosângela aquela lona que protegia a sua família da chuva era suntuosa. “Eu adorava morar lá, era tão bom, parecia uma mansão. Nós todos éramos muito felizes, minhas filhas ainda eram pequenas, mas elas amavam”, comenta. Quando a prefeitura chegou com a proposta do habitacional, ela vislumbrou melhorias, não se recusou a aceitar e esperou a prometida casa própria.  

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Rosângela, o marido e os filhos esperaram por quase 10 anos. “Quando vi as obras paradas me deu uma grande tristeza no coração”, diz. “Eu coloquei nas mãos de Deus e acreditei, mas logo a decepção chegou. Não teve habitacional nenhum. O que nós todos sonhávamos quando saímos dali era que, ao voltar, teríamos nossas casas prontas, mas isso não aconteceu.” 

Por mais que o baque tenha sido grande, ela diz não desanimar. “Nós voltamos e iremos a luta de novo. Dessa vez sairemos vencedores, porque o que Deus promete ele cumpre de um jeito ou de outro”, afirma Rosângela. “Quando voltei pra Vila Independência soube que seria uma grande vitória novamente, que iríamos vencer com a garra, que iríamos ter nosso próprio lar. Nós vamos sair do aluguel, porque o auxílio moradia não dá pra pagar um lar.” 
 
Agora Rosângela não se preocupa com mansão, só quer o que é dela por direito: moradia firme, própria, digna. “Casa para mim é tudo. Sem um lar para colocar nossa família dentro não somos nada”, comenta. “Eu creio que vamos colocar esse sonho de pé para todos de Vila Independência, porque ele não é só meu, é de todos e todas. Eu creio que todos nós vamos construir nossas casas sim, porque junto somos mais fortes.” 

Edna e a esperança 
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Edna Santos já sabia que queria uma casa, mas ainda não conhecia a Vila. Foi caminhando por Nova Descoberta que achou o local que seria o seu novo lar e luta pelos próximos anos. “Ainda morava com a minha mãe, passando por ali na avenida avistei aquela ocupação, era mais ou menos 1998 pra 1999. Chamei meu marido para ir até lá, nos interessamos em comprar um terreno. Na época era outro líder comunitário que vivia lá, não era Anderson Gugu. Ele nos deu um terreno e perguntou se tínhamos nos agradado, dissemos que sim e ele disse: “então é de vocês, venham logo morar porque é uma ocupação, não pode ficar abandonado por muito tempo se não outras pessoas invadem”, então construímos um barraco e fomos morar.” 

A acomodação teve de ser rápida, mas Edna teve cuidado em todos os detalhes. “Meus primeiros anos na Vila foram sempre de alegria. Passamos por turbulência, mas quem não passa? Gostava muito de ajeitar meu barraco e melhorar para que ele se parecesse com uma verdadeira casa, minha moradia. Pegamos resto de construção, de madeireira e telhas para que ficasse com uma estrutura melhorzinha.” Foi nesse espaço onde Edna gerou seu filho, que nasceu em 2001. A casa que estava construindo também serviu de apoio para a sua mãe. “Passei a dividir o meu espaço com a minha mãe no finalzinho de 2002, quando ela teve o problema de saúde é ficou acamada tendo que morar comigo até a seu falecimento em 2009.” 

Pouco tempo depois do falecimento da mãe, Edna soube que a prefeitura queria desocupar a área para construir habitacionais. “Não só eu, mas toda comunidade ficou muito feliz. Achamos que os nossos sonhos estavam sendo concretizados, acreditávamos neles. Até que começaram os descasos com a construção. Eles abandonaram tudo, deixaram tudo para lá, um descaso com o povo”, relembra. “A sensação q tenho até hoje é que os governantes não estão nem aí para as classes necessitadas, eles só começam a aparecer quando precisam dos pobres, em época de eleição.” 

Por maior que seja a revolta, Edna se agarra em outro sentimento para construir novamente a casa que sempre sonhou. “A volta está sendo mais esperançosa, apesar de ter só nossas forças para batalhar por nossos sonhos e objetivos. A esperança foi renovada”, diz. “Vamos continuar brigando por esse lugar que é nosso. Vamos continuar brigando por Vila independência.” Para travar essa luta, Edna se juntou à comissão da Vila. “Fazer parte desse grupo, o que posso dizer... Tem hora que é gratificante, quando corremos atrás de alguma coisa para comunidade e somos reconhecidos, por exemplo. Mas às vezes também temos estresses de ter que lidar com a cabeça dura de alguns. Mas estamos aí para lutar, batalhar e conseguir melhorias para nossa comunidade.” 

Edna tem uma ambição que para alguns pode ser simples e para todos, por lei, deveria ser assegurada. “Meu maior sonho, no momento, é concluir nossa construção. Com a graça de Deus dará tudo certo para que tenhamos posse da nossa terra e moradia”, afirma. “A casa de cada um deve ser seu porto seguro, um lugar que você vai ter para sempre voltar. Imagina você trabalhar, sair, se divertir e depois poder dizer “vou para minha casa” como é gratificante você ter um lugar, um cantinho para você chamar de seu.” 
 

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 Lucidalva e a força de vontade

Lucidalva e os filhos carregam os tijolos da casa que constroem por conta própria, usando a base abandonada pela prefeitura. Por dentro, o ambiente é simples, vãos divididos por paredes ainda incompletas. Ainda faltam reparos, reboco e decoração, coisas que aos poucos são conquistadas, mas o espaço é todo preenchido com amor e determinação. 
 
Ela saiu da casa mãe, que morava perto de uma barreira condenada. “Por medo da barreira deslizar, saí de lá. Sou uma das primeiras ‘invasoras’ dessa área. Cheguei ainda na primeira ocupação, quase 20 anos atrás”, relembra. A primeira vez que Lucidalva pisou em Vila Independência não tinha a idade muito distante da que seus filhos têm hoje. “Eu era uma criança ainda quando cheguei aqui, tinha 12 anos apenas. Passei uns anos aqui construindo um barraco. No início era tudo uma brincadeira. Vim ver se dava certo, me juntei com as minhas irmãs, minhas primas e outros conhecidos, viemos para esta área e ocupamos, fazer aquele famoso “se colar, colou”, e deu certo.” 

Lá Lucidalva fez seu lar, por 10 anos morou no espaço, que só deixou quando recebeu a proposta da casa própria, dessa vez de alvenaria, com espaço para ela e suas crianças.

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“Aqui dentro conheci o pai dos meus filhos, formei uma família, criei um barraco pra gente. Saí gestante do meu terceiro.” Mas a prefeitura não cumpriu o acordo. “Eles pediram para que a gente se retirasse, deram um auxílio moradia, que é pouco e não nos sustenta. Pouco tempo depois a obra foi parada e não recebemos nossa casa”, fala.  

Enquanto esperava, Lucidalva precisou procurar outros locais para viver. “Passei a morar de aluguel. Morei no Córrego Jardim Primavera, fui pra Canaã, depois voltei para Córrego Jardim Primavera outra vez, porque a casa era mais barata e o auxílio era baixo”, explica. “Agora estou aqui, em Vila Independência, mas dessa vez estou construindo minha casa própria, meu lar.” 

Com força de vontade, ajuda da família e trabalho duro, a casa vai tomando forma, lembrete concreto da realização de Lucidalva. “Até hoje estamos travando essa batalha, mas voltei. Hoje eu estou aqui construindo a minha casa, o que é uma vitória e uma luta. A gente sabe que nada está fácil hoje em dia. Graças a Deus tenho construindo nossa moradia”, pontua. “Minha família e minha história foi toda construída aqui, e agora retornei para dar continuidade.” 

Luciana da Silva e o quadrado no chão 
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Luciana é irmã de Lucidalva e foi uma das que veio tentar a sorte em Vila Independência. Hoje a casa que está construindo fica aos fundos da ocupação, tem uma porta azul brilhante e uma lâmpada na entrada. “Eu cheguei aqui com 18 anos. Meu primeiro filho iria completar dois anos e meu segundo estava com quase um. Estava largando do trabalho quando soube que iriam invadir um terreno baldio em Nova Descoberta, um terreno abandonado e cheio de mato. Esse lugar estava sendo usado como ponto de drogas e violência”, relembra. 

Luciana viu naquele terreno uma oportunidade. “Eu vim, ajudei a limpar o local e construí meu barraco de lona. Em todos os 10 anos que morei aqui, nunca consegui fazer de alvenaria. Eu trabalhava e os pais dos meninos também, mas a gente não ganhava lá essas coisas. Fizemos de madeirite e cobrimos com lona e aqui éramos felizes.” 

A promessa do habitacional feita pela prefeitura parecia um sonho. “Para mim, que não tinha muitas condições na época, aquele era um senhor projeto."

"Eles prometeram o que todos queriam, uma casa própria, mas não entregaram nada. Isso é um absurdo. Seria melhor que eles tivessem repartido tudo em tamanhos iguais, desse um pedaço de terra a cada um, faríamos por conta própria as nossas casas. O que estamos fazendo agora, né? Se eles tivessem pensado na gente, não precisaríamos sair.” 

Ela lembra das dificuldades que passou quando precisou deixar a estrutura que havia construído. “Peguei o meu auxílio e fui pagar aluguel, passei muitos anos em aluguel, naquele sofrimento. Mas nos últimos meses fui desligada de uma empresa que trabalhava e com minha restituição consegui comprar um pedacinho de chão. Mesmo assim, não desisti daqui. Muitos me criticaram, não entendiam o porquê estava voltando, mas eu queria o que é meu por direito. ” diz. “Penso também nos outros que saíram de Vila. Muitos ainda tinham seu ganha pão quando precisaram deixar ocupação, mas e aqueles que não tinham? Precisaram depender de parente, criaram dívidas. Tudo isso entristece e desanima. “ 
 
Para os próximos anos Luciana espera que Vila Independência esteja regularizada. “Estou lutando por mim e pelos meus filhos, que estão se casando agora. Quando os filhos casam, já pensamos nos netos, né? Quero que todos eles tenham esse quadrado no chão. Quero que minha família se sinta segura e tenha onde morar”, comenta. “Quero que eles vejam Vila Independência do jeito que eu vejo. Um lugar de gente de confiança, onde a gente se preocupa com o próximo.” 

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Ana Cristina e o planejamento 

O início foi duro e quando finalmente conseguiram se adaptar, a Prefeitura fez a proposta do habitacional. “Eu achava que seria para melhor, por isso saí. Eles nos colocaram no auxílio moradia e eu comecei a trabalhar para fechar a renda. Trabalhei em funerária e como zeladora, mas depois de 5 anos trabalhando e economizando, sem comprar nada pra mim, às vezes usando a mesma sandália amarrada com um arame do lado por seis meses, consegui comprar um pedacinho de chão para mim”, explica. “Depois que vi as obras paradas e ouvi que os antigos moradores voltariam pra Vila, peguei as minhas coisas e vim para cá, reconquistar o meu espaço.” 
 
Foi como começar de novo. “Iniciamos tudo do zero, né? Não tínhamos mais barraco. Dormíamos no barro, meu filho dormia coberto por um guarda-chuva. Era toda a proteção que tinha”, relembra Ana. “Montamos outra vez um barraquinho, muito pequeno e de plástico. Se uma pessoa deitasse as outras tinham que ficar de pé. Ele ainda está lá, mas começamos a casa de alvenaria. Tivemos a sorte de ganhar tijolos e, enquanto eu trabalhava, sempre comprava materiais de construção e deixava guardado no armazém, então tinha produtos para usar na nova casa.” 
 
Com dificuldades, muita economia e planejamento, Ana está conseguindo mais uma vez chegar perto da casa própria. Subiu suas paredes e fez um lindo chão de cimento queimado sobre a base esquecida pela prefeitura. “Na pandemia, estamos eu, meu filho e meu marido desempregados. Na frente da minha casa montei uma vendinha. Tem de tudo, picolé, cremosinho, biscoito, refrigerante... Tudo isso me ajudou a passar esse período. Isso e as cestas distribuídas pelo Cendhec”, afirma. “Fácil não é. Se preciso comprar 5 kg de feijão, reduzo pra três. Toda a economia, todo o esforço, é para montar a minha casa”. 
 

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Ana Cristina é falante, alegre e decidida. Foi essa praticidade de tomar decisões que a fez ficar em Vila Independência. “A primeira vez que pisei nesse espaço meu filho tinha 1 ano e oito meses. Ele agora está preste a completar 22 anos. Eu não tinha onde morar e minha irmã falou que aqui tinha um barraco desocupado, vim pra ver. Falei pro meu marido, fomos pra feira e quando acabamos viemos aqui na Vila”, relembra. “Encontramos um vão bem pequeno e estava muito sujo. Tinha plástico de camisinha e resto de cigarro. Começamos a limpar e o que era pra ser apenas uma visita se tornou o nosso primeiro dia aqui.” 
 
Antes da primeira retirada, Ana Cristina enfrentou muitas dificuldades para se estabelecer na moradia, mas fez diversas melhorias com o dinheiro e mão de obra que estava ao seu alcance. “Assim que cheguei, tudo o que tinha em casa era uma cômoda. Por isso minha mudança foi fácil, né? Só a cômoda e algumas roupas”, aponta. “Aos poucos fomos nos habituando. Fui ajeitando as lonas, os madeirites e conseguimos colocar água na casa. Arrumamos um fogão duas bocas e minha mãe me deu dois pratos; dois garfos; duas facas; duas colheres e duas panelas, porque ela também tinha poucos. Não tínhamos televisão ou cama. Eu dormia no chão e meu filho ficava em um espelho de cama improvisado que achamos em outro barraco.”  

 

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 O Cendhec 
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Para que o futuro não seja mais duro do que este ano, fortaleça a rede de apoio. Ajude locais como Vila Independência, Bode, Cardoso, Mangueira, Mustardinha, Torrões e Várzea, nos quais o Cendhec têm atuação. Colabore com as ações de enfrentamento à violência e o direito à cidade doando para o nosso centro.  
 
Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social 

Banco 237 – Bradesco S.A.  

Agência: 1230-0  

Conta Corrente: 39630-3  

Código Iban: BR86 6074 0123 0000 0396 303c 1

Código Swift: BBDEBRSPRCE

CNPJ. 245.417.305/0001-61

De acordo com o levantamento da Consultoria IDados (2020), realizado com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres. Ao todo, 34,4 milhões de mulheres respondem pelas casas do país. Na última Síntese dos Indicadores Sociais, também do IBGE, foi apresentado que 63% das casas chefiadas por mulheres negras no Brasil vivem abaixo da linha da pobreza. Para o IPEA (2018), mulheres negras ocupam e chefiam o maior percentual de habitações irregulares e assentamentos subnormais no país, que significa residir em área de risco, ocupações ou em condições precárias. 
 
Durante a pandemia, esses lares são ainda mais afetados pela fome e pobreza. Com a crise sanitária e financeira causada pela Covid-19, muitas se viram sem emprego e com a saúde comprometida. Para tentar amenizar os efeitos negativos causados pela pandemia e garantir o direito à alimentação, o Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social realizou entregas de cestas básicas nas comunidades nas quais tem atuação, entre ela Vila Independência. Foram distribuídos alimentos para as 150 famílias que vivem na ocupação. 

 

"Segundo o IBGE, pelo menos 1,2 milhões de pernambucanos vivem em situação de extrema pobreza. Durante a pandemia, presenciamos o número crescente de desemprego, postos de trabalho fechados e trabalhadores com salários reduzidos. Desta forma, a vulnerabilidade social nas periferias e territórios nos quais atuamos só aumentou", aponta a coordenadora geral do Centro, Vera Orange. "O Cendhec tentou responder às emergências que a crise sanitária e o isolamento social amplificaram. Atuamos em defesa dos direitos humanos, desta vez também traçando projetos de ajuda humanitária com a doação de cestas básicas."

Além disso, foram produzidos e entregues panfletos informativos sobre a importância do voto, auxílio emergencial, higiene durante a pandemia e sobre a identificação e denúncia da violência sexual.

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Alcione Ferreira

Comunicadora do Cendhec

Produção de imagem

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Mariana Moraes

Comunicadora do Cendhec

Produção de texto

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