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Para escolas seguras e saudáveis "é preciso combater a naturalização da violência e do medo"


Imagem/ Agência Brasil



Uma série de ataques contra instituições de ensino, profissionais da educação e estudantes, foram noticiados no último ano, desde a volta às aulas presenciais. Adicionado a isso, notícias que alertavam para possíveis ameaças de novos ataques, rapidamente espalhadas nas redes sociais, despertaram o pânico.


Hoje (28), o Dia da Educação tem marcas com dados lamentáveis e alarmantes em todo o país. O Brasil está entre os índices mais altos do mundo no ranking de agressões contra professores segundo o levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em 2019. Em São Paulo, nos dois primeiros meses de 2022 houve um aumento de 48,5% de casos de agressões físicas em relação ao mesmo período de 2019, último ano de aulas presenciais antes da pandemia de Covid-19. O crescimento também foi expressivo nas ocorrências de ameaça, com 52%, e nos casos de bullying, com 77%.


As últimas notícias fomentaram uma série de discussões sobre possíveis motivações para o aumento exponencial de casos de violência às escolas – e nas escolas. Dentre as causas apontadas, incentivo ao discurso de ódio, às ideias neofascistas, práticas armamentistas e louvação aos torturadores de regimes ditatoriais, marcas do último desgoverno presidencial do Brasil. Relatório conjunto lançado por um grupo de profissionais, especialistas e ativistas ligados à educação no final de 2022 e disponível no site da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), pontua que “as violências nas escolas - um fenômeno que contempla inúmeras expressões - colabora com a emergência do extremismo de direita e a consequente cooptação de adolescentes e jovens. Portanto, há uma retroalimentação que precisa ser enfrentada.” As afirmações e ideias seguidas por grupos de extrema direita do país, respingam na formação de jovens e adolescentes, que passaram a reproduzi-los. A CNDE também lançou no último dia 26 deste mês o Guia Sobre prevenção e Resposta à Violência às Escolas, podendo ser acessado e baixado gratuitamente pelo site da entidade.


Como medida de enfrentamento à violência em instituições escolares, o Governo Federal, através do Ministério da Justiça, criou a operação “Escola Segura”, uma força tarefa em conjunto com os estados. Para isso, entre as ações foi criado um canal para envio de informações sobre possíveis ameaças a ambientes escolares.


Para além dessas medidas, é fundamental observar o agravamento no cenário de insegurança nas escolas considerando as camadas que o problema revela, incluindo o contexto social e psicológico. Em entrevista para a equipe de comunicação do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social, a psicóloga do Centro, Luanna Cruz, pontuou a importância da atuação dos profissionais da saúde nas escolas e traçou medidas de intervenção, prevenção e alertas diante de violências nas instituições. Confira a entrevista completa:


O que caracteriza um ambiente escolar saudável e seguro para estudantes e professores?


Em primeiro lugar um ambiente escolar seguro e saudável é todo aquele que prioriza a escuta das crianças e adolescentes juntamente com um ambiente acolhedor. Promovendo sempre um diálogo aberto para ouvir as dúvidas, os afetos e o sofrimento das crianças, sendo possível a partir do reconhecimento das crianças e adolescentes enquanto sujeitos que podem e devem falar por si. A partir disso, informar e orientar de forma adequada sobre formas de proteção e pedidos de ajuda.

Qual a importância dos profissionais de saúde mental nas escolas?


As escolas necessitam de profissionais que assegurem o acompanhamento e o atendimento psicossocial dos alunos em sua integralidade. Para a promoção da saúde mental, a psicologia e o serviço social podem investir na fomentação do processo de aprendizagem, respeito às diferenças, fortalecimento das diversidades, e até para o enfrentamento de formas de violências. Incentivando a escola enquanto ambiente crítico e acolhedor, possibilitando a aproximação da comunidade e da família com a escola.


Quais as possíveis motivações para o crescimento dos casos de violência nas escolas nos últimos anos? E quais as medidas de enfrentamento necessárias?


É preciso lembrar que a violência não é exclusiva ao âmbito escolar. O Brasil tem vivenciado ao longo dos últimos anos o incentivo ao ódio, a violência e a desinformação; acontecimentos que interferem na vida de crianças e adolescentes, logo na vivência escolar. É preciso combater a naturalização da violência e o medo, proporcionando a conscientização dos alunos, da comunidade escolar e das famílias. Promover debates, combater discursos de ódio e proporcionar espaços de escuta e compartilhamento. É preciso incentivar a cultura de paz e combater qualquer discurso que valide formas de violências. Ações que precisam incluir todos do ambiente escolar e a comunidade, entendendo a sociedade civil como parceira.


De que maneira organizações da sociedade civil podem atuar para diminuir e prevenir casos de violência?


As organizações da sociedade civil ocupam papel importante no combate à violência nas escolas, seja pelo apoio à escola e à comunidade, como também levando para o debate na construção de políticas públicas e no controle social através da discussão e da fiscalização das ações públicas frente ao tema.


Como contribuir para amenizar os possíveis gatilhos de traumas psicológicos nos alunos?


É importante elucidar que os ataques às escolas poderão causar diferentes efeitos a depender de cada pessoa e de seu contexto psicossocial. É preciso dedicar atenção às repercussões emocionais e psíquicas, principalmente diante do medo e da não expressão dos sentimentos decorrentes ou não de situações de violência.


 

Luanna Cruz é psicóloga do Cendhec e atua no projeto Teia de Proteção, do Programa Direitos da Criança e do Adolescente. Compondo a equipe de formação do projeto, Luanna ministra aulas formativas e pedagógicas com crianças e adolescentes moradores de comunidades da Zona Sul do Recife.


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