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Mulher lésbica e pluralidade: "Fazer o ativismo de todas essas dores, me fortalece"



Na última segunda-feira, 29, foi lançado, pela Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e pela Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus, o primeiro "LesboCenso Nacional: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil'', no auditório da OAB-PE. O mapeamento abrange detalhadamente dados referentes à realidade socioeconômica, educacional, trabalhista de mulheres lésbicas brasileiras, além de traçar um panorama sobre saúde, segurança, rede de apoio, relacionamento e relações familiares.

 

Os dados foram coletados por meio de questionário online, com 87 perguntas respondidas anonimamente por 30 mil voluntárias. O Censo é uma forma de verificar padrões de negligências, bem como os fatores de agravamento de vulnerabilidades, indicadores de violações e cenários de maior exposição à vida e liberdade das mulheres lésbicas no país. A coleta de dados mais detalhada contribui para a construção de políticas públicas, o controle social, a defesa de direitos humanos e produção de informações sobre lésbicas do país. “Entraram dados de identificação, de raça, de escolaridade, é um formulário bem completo, são dados que levam a gente a perceber essa mulher lésbica de uma forma ampla, diversa, plural e completa”, ressalta Malu Aquino, integrante do Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de Pernambuco, que participou da disseminação do documento.

 

A data do lançamento do documento não foi por acaso, uma vez que ela marca o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, estabelecida em 1996 com o 1º Seminário Nacional de Lésbicas e Bissexuais (Senalesbi). No entanto, 26 anos após o 1° Seminário, a necessidade de ampliar as discussões e as pesquisas, é urgente.


“Nós temos pautas desde 1996, que se repetem, que são correlacionadas à saúde, à violência. O LesboCenso trata também das violências, mas dos perfis onde a gente tem essas mulheres, onde elas estão inseridas, qual esse esse grau de instrução, como é as relações. O LesboCenso vai ampliar esse leque de necessidades para nós lésbicas e mulheres bissexuais", explica Aquino.

 

Segundo o relatório, 78,61% das que responderam o questionário já sofreram violência motivada pela orientação sexual, e em 75,13% dos casos pessoas conhecidas da vítima foram as autoras. Assédio moral (31,36%), sexual (20,84%) e violência psicológica (18,39%) foram os mais frequentes. O cenário de opressões, impregnado na história do Brasil, impõe e mantém estruturas que revelam o machismo, a misoginia, a LGBTfobia e o racismo na nossa sociedade.


Leia o conteúdo na íntegra: LesboCenso


Ativismo para vivência


Em combate às violações, a articulação de movimentos sociais organizados contra a lesbofobia e LGBTfobia,intensifica-se cada vez mais. O enfrentamento dos instrumentos de negligência do direito humano à vida e à liberdade de mulheres lésbicas em Pernambuco tem o início marcado entre as décadas de 1970 e 1980 com articulações mais ativas de mulheres, que deram início ao Movimento Lésbico no estado.

 

Criado em 2009, o Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Pernambuco é um dos movimentos atuantes na defesa da causa no estado, com enfoque na Região Metropolitana. O Comlesbi atua em diversas frentes, dentre elas a organização da ala das lésbicas na Parada da Diversidade de Pernambuco (que estará de volta esse ano após ser interrompida pela pandemia da Covid-19).


A articulação era nomeada, inicialmente, como Comles, Coletivo de Mulheres Lésbicas, mas incluiu a vivência de mulheres bissexuais na pauta em 2016. Para Malu, a mudança “trouxe uma nova forma de enxergar pra dentro do próprio ativismo, de entender a mulher bissexual e trazer essa pauta pra debater e dividir com a gente”. Ao todo, 43 mulheres fazem parte do movimento.

 



Jornalista e fotógrafa, Malu Aquino integra o Comlesbi desde 2013, quando iniciou a atuação nas causas LGBTQIAP+, negro e religioso. “O lugar de viver na caixinha e não falar sobre o quanto tudo isso atravessa, me deixava inconformada. Então fazer o ativismo de todas essas dores me fortalece”, explica. “Dentro do jornalismo, dentro da fotografia, também faço a militância ao contar as histórias do candomblé, da prática religiosa, a partir da minha lente. ”

 

“Através da lente eu consigo contar histórias”.

 

Como ferramenta aliada na resistência, ressignificação e de potencialização coletiva e individual das lutas, a fotografia tem acompanhado Malu desde 2018, ano em que fotografou na Parada da Diversidade pela primeira vez, sendo a segunda em 2019. “Eu consegui entender que as histórias não precisam ser só contadas a partir de textos, até porque é uma coisa muito ocidental, a nossa religiosidade é trocada na oralidade que também é uma outra forma de ver, de enxergar o mundo”.

 

Aquino conhece o poder da mobilização coletiva - diversa e plural - e a importância de cada uma na movimentação. Para ela, além dessa compreensão, presenciar com frequência as juventudes nos debates é um diferencial. A ativista já integrou o Fórum Juventude Negra, o Conselho Municipal de Saúde do Recife e o Conselho Estadual de Juventude. Atualmente, além de participar do Comlesbi, é Conselheira Estadual LGBT e integrante da Rede Candaces - Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas.

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