top of page
Cendhec

Fé a serviço dos Direitos Humanos


Política, religião e cidadania. Conheça algumas vozes inspiradas por Dom Helder



“Política é, antes de tudo, preocupação com os grandes problemas humanos.” Com esta afirmação, feita décadas atrás, Dom Helder Camara já destacava a importância de envolver-se nas causas sociais. Os problemas aos quais denunciava estavam inteiramente relacionados à falha no cumprimento dos Direitos Humanos. Entre as dificuldades estavam a escassez do acesso à alimentação, a saúde e a moradia da população mais pobre. O líder religioso não separava fé de justiça social e seu envolvimento com uma reverberava diretamente em outra. “Dom Helder entendeu que pobre não é pobre, o pobre é um empobrecido, é um oprimido. É fruto de um sistema que gera, continuamente, muita pobreza de um lado e riqueza de outro”, descreve a Coordenadora da Comissão de Justiça e Paz, Malu Aléssio.


Muitos dos direitos básicos e essenciais, os quais, inclusive, eram defendidos com luta e crença pelo Dom da Paz, lamentavelmente, sofreram progressivas violações nos últimos anos - sobretudo devido à má gestão governamental do País e desmonte de políticas públicas, fortalecendo mazelas já existentes e o agravamento da crise sanitária, motivada pela Covid-19. O Brasil a vivenciar a escalada de famílias economicamente empobrecidas e oprimidas, como pontuou Aléssio. Casas, ou mocambos, beirando à insegurança alimentar ou à fome, e jovens expostos aos efeitos da negligência de direitos essenciais à vida, problemas elucidados por Dom Helder em vida.


Como forma de enfrentamento à situação caótica do País, líderes religiosos e instituições de solidariedade desenvolvem papeis vitais para a vida e a proteção da dignidade de pessoas afetadas nestes últimos dois anos. “Durante a pandemia, passamos a ter outro papel dentro da comunidade, de acompanhamento às famílias em situação de vulnerabilidade”, comenta Auristela Leite, coordenadora do Projeto Dom Helder Camara - Arte e Missão, que atua em Fortaleza.


Religiosidade e compromisso com os Direitos Humanos



Uma das idealizadoras do projeto mencionado anteriormente, Auristela Leite conta que a inciativa se deu através de observações realizadas pelo Movimento Infância e Adolescência Missionária (IAM) na paróquia de Santo Afonso, localizada na capital cearense, cujo trabalho é voltado para crianças e adolescentes ligadas à doutrina católica. “Como bem fala a nomenclatura, somos um movimento e não paramos”, afirma.


Promovendo o acesso a vivência artística e cultural, o Projeto Dom Helder Camara - Arte e Missão oferecia - até antes da explosão da Covid-19 - aulas de teatro, ballet, jazz, canto, violão, bateria, teclado e flauta, com taxas mínimas. Entre as atividades externas, era possível levar as crianças para o museu, e além disso, no teatro, puderam vivenciar e montar apresentações artísticas.


Conforme observou a rede Penssan, responsável pelo “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, em média 116 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar no país. Os dados, por mais que assustem, ainda não dão a real dimensão do problema. Apenas quem está frente a frente com a geladeira vazia e com as privações de direitos básicos sabem como a crise sanitária, política e financeira abalaram seu dia a dia. Líderes e organizações que trabalham com estas causas sociais também fenestram as dificuldades, tentam mitiga-las e apresentar ao restante da comunidade o atual panorama.


Defender os Direitos Humanos é, principalmente, prevenir o cenário caótico para o qual o país caminha, além de dar suporte aos recortes sociais minorizados. Como defensor da cidadania, Dom Helder Camara ressaltava a importância de estar ao lado dos vulneráveis e ampara-los. Como consequência da sua revolução, outras vozes importantes para a construção de uma sociedade mais justa e menos violenta passaram a se inspirar em suas ideias. A iniciativa da qual Auristela faz parte é uma delas.


O projeto que leva o nome do Dom da Paz iniciou com a proposta de inclusão sociocultural e passou a ser suporte a famílias carentes durante o avanço do Coronavírus, uma vez que os reais responsáveis, como o poder governamental, não supriam - e ainda não suprem - as lacunas. “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”, segundo Auristela, a afirmação do Dom Helder faz parte da vivência do projeto.


Ao realizar a distribuição de 1.470 cestas básicas, kits de limpeza e higiene pessoal, o projeto ressalta sua função diante de urgências sociais e políticas. Como bem observa a coordenadora: “Não consigo separar religião de movimentos sociais, envolver os jovens nas questões sociais é viver o evangelho. Apesar de colocarem estes movimentos somente como questões políticas, eu os coloco como questões humanas e cristãs”.


A mobilização na busca pela paz e justiça



“Dom Helder Camara é, com certeza, a maior referência que nós temos em defesa dos direitos humanos. Ele é referência pros jovens, ele é referência pra igreja, ele é referência pra política. Ele é o maior legado que nós temos”, salienta a também coordenadora geral da educação em Camaragibe, Malu Aléssio, integrante da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife.


A CJP foi fundada por Dom Helder na década de 60, durante a Ditadura Militar. A iniciativa apoiou presos políticos e protegeu as populações atacadas pelo regime, uma vez que a maioria dos movimentos sociais se encontrava numa situação de dispersão. Segundo Malu, naquele momento a “CJP tinha o papel de reorganizar, de mobilizar e dar força aos movimentos sociais”. Em um período de repressão e violações constantes de direitos, Dom Helder apresentou sua força e coragem em denunciar e dialogar. “Esse ambiente de amor que Dom Helder tratava não desvinculado desse compromisso social absoluto tornava ele uma ameaça tão grande [ao sistema repressor] durante o autoritarismo”, observa Malu.


Refundada em 2017, pelo arcebispo Dom Fernando Saburido, atualmente a função social da CPJ também tem relação com a articulação das organizações sociais, desta vez mais estruturadas. Segundo Aléssio, é necessário permanecer “aprofundando, à luz da doutrina social da igreja, o apoio aos movimentos sociais; refletindo criticamente sobre as estruturas, e situação que contrarie as inspirações e propósitos de justiça; mobilizando a sociedade para encaminhamento de resposta às ações que ferem os direitos humanos”. Mas além disso, em compromisso com a juventude refém das desigualdades e inseguranças sociais deve haver “um papel de formação de consciência de direito, de trabalhar educação popular pra construir uma mentalidade de luta pela democracia, é um tempo quase de barbárie e a gente só se livra dessa barbárie com a educação”.


A semelhança entre as ideias de Auristela, Malu e do Dom não é coincidência. Elas são respaldadas pela influência que o líder tem até hoje no caminho para uma Igreja e comunidade mais atenta as desigualdades. São exemplos palpáveis da propagação dessa sua luta. “Nós temos que continuar traçando essa mesma busca de paz no país, mas não uma paz dos pântanos, como ele dizia, mas uma paz pelo engajamento da luta pela justiça, porque não existe paz sem justiça, sem fraternidade, sem compromisso com a promoção de direitos humanos”, enfatiza a integrante da CPJ.






Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page