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Formação realizada pelo Cendhec aborda abuso e exploração sexuais com estudantes do Pina



Foto: Alcione Ferreira

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de exploração sexual de crianças e adolescentes, estando apenas atrás da Tailândia. Por ano, de acordo com um panorama do Instituto Liberta, são 500 mil vítimas. Para ajudar a combater esse cenário, o Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social realiza formação para estudantes da Escola Municipal Oswaldo Lima Filho, no Pina. A atividade, que acontece na próxima quarta-feira (18), se une a outras ações que marcam o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.


A ideia é, por meio de oficinas multidisciplinares com profissionais do Centro, debater a importância de identificar e denunciar violências. Participarão da iniciativa meninas e meninos dos sétimos anos da instituição de ensino, que correspondem a faixa etária de 12 anos, além de assistentes sociais, pedagogas e advogadas do Cendhec. O encontro iniciará às 8h, na Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, 1040, Pina, Zona Sul do Recife.


Os dados coletados pelo Instituto Liberta mostram que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil – no entanto, esse número pode ser ainda maior, já que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. O estudo ainda esclarece que 75% das vítimas são meninas e, em sua maioria, negras. Elas são vítimas de espancamentos, estupros, estão sujeitas ao vício em álcool e drogas, bem como Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). As agressões contra crianças e adolescentes aumentaram ainda mais devido à pandemia do coronavírus, quando elas precisaram ficar em isolamento social.


A formação oferecida pelo Cendhec reúne a equipe de Direito da Criança e do Adolescente por meio dos projetos “Teia de Proteção'', que conta com o apoio da instituição alemã Kindernothilfe, e “Na trilha da Educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas”, apoiado pelo Malala Fund e incentivado por Freedom Fund. A partir de uma metodologia que envolve roda de conversa, escuta, exibição de vídeos e dinâmicas, as especialistas irão fornecer informações sobre exploração sexual como forma de prevenir e ajudar meninos e meninas a identificarem violências.


Além das atividades realizadas no dia 18, o Centro preparou, com o auxílio das instituições e organizações parceiras, outras atividades para o mês de maio e junho. Todas voltadas à defesa e proteção de crianças e adolescentes.


“O nosso objetivo é refletir com as/os estudantes na perspectiva do gênero. Apresentando conceitos relacionados ao abuso, exploração sexual de crianças e adolescentes, diferenciando e trazendo as particularidades de cada um deles, convidando também a comunidade escolar a pensar nesse tema, para juntar forças e fazer um enfrentamento significativo para essas crianças e adolescentes que são as principais vítimas desse tipo de violência”, explica Rosângela Coelho, pedagoga do Centro. “Esperamos, com esse encontro, provocar a reflexão, ajudar crianças e adolescentes a perceber e identificar os tipos de violência. Provocar o autocuidado, levar informação para que elas e eles possam também disseminar esse entendimento nas suas famílias e grupos de amigos.”


A formação também será ministrada pela pedagoga e integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala, Paula Ferreira, que chama atenção para a urgência do tema ser mais abordado no ambiente escolar. “A oficina vai refletir com os estudantes o autocuidado na perspectiva de gênero e apresentar conceitos relacionados ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. É um tema delicado uma vez que o próprio desequilíbrio estrutural gera as desigualdades de gênero. Nesse sentido, segundo o Disque 100, são mais meninas que sofrem com violência sexual. São 46% entre 12 e 17 anos e isso diz muito sobre a importância de pautar esse tema nas escolas”, pontua Paula.


Com 32 anos de atuação pelos direitos de meninas, meninos, moradoras e moradores de assentamentos, o Cendhec tem entre suas prioridades combater o abuso, violência e exploração sexual de crianças e adolescentes. “É muito importante estarmos debatendo esse tema no território do Pina e de Brasília Teimosa. O centro busca fortalecer as redes que já atuam nestes locais, e montar uma teia de proteção que seja comunitária, social, que tenha participação das famílias, das crianças e dos adolescentes. Queremos que meninas e meninos possam ocupar lugar de protagonismo, que tenham noção de autodefesa, de direito sobre os seus corpos. Tenho certeza que com trabalhos na comunidade conseguiremos empoderar esse contingente, para que possa estar pautando e pautado em espaços de formulação de políticas, planos, e propostas que protejam suas vidas de violações”, explica Juliana Accioly, advogada e coordenadora de projeto do Cendhec.


Enquanto integrante do Conselho Municipal e Estadual de Crianças e Adolescentes, e da Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Pernambuco, o Cendhec atua ativamente na construção de políticas públicas para a defesa de meninas e meninos. Neste ano, por exemplo, o Centro irá colaborar com a construção do plano decenal de enfrentamento à exploração sexual contra este recorte populacional, que deve ser adotado no estado.


Rede de enfrentamento Criado pela Lei 9.970/2000, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nasceu em decorrência da morte de Araceli Crespo, que tinha 08 anos quando foi sequestrada, violentada e assassinada, em 18 de maio de 1973. A data é marcada por ações em todo o país, para impedir que mais crianças e adolescentes passem pelos momentos de horror que Araceli enfrentou. Em Pernambuco, um ato público mobilizado por entidades que compõem a Campanha Faça Bonito (https://www.facabonito.org/) está marcado para às 15h, no Marco Zero. Encabeçadas pela Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Pernambuco, da qual o Cendhec faz parte, outras programações acontecerão durante o mês. A agenda completa pode ser encontrada em nossas redes sociais.

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