Dia Internacional da Tolerância - Virtude ausente no governo Bolsonaro
O 16 de Novembro, demarcado pela Unesco como Dia Internacional da Tolerância, declara os princípios desta virtude e alerta para a urgência em discutir as motivações, as consequências e as formas de denunciar ações de discriminação. O marco representa uma lente focada, também, nos grupos que são alvos centrais dos crimes.
Em um ranking com 27 países, o Brasil ocupa a 7° posição nas pesquisas de intolerância mundial, conforme analisou o Gallup International Association - associação de organizações de pesquisa, localizada em Zurique, na Suíça.
Bolsonaro e a imprensa
No dia 30 de Outubro, em Roma, jornalistas foram atacados em ato pró-Bolsonaro, por seguranças do presidente. Na tentativa de entrevistá-lo, repórteres eram impedidos, com agressões, de se aproximarem, enquanto apoiadores eram permitidos permanecerem por perto. Em conferência na 76ª Assembleia-Geral da ONU, no dia 21 de setembro, o presidente brasileiro se dirigiu à imprensa como mentirosa, apesar do próprio compartilhar informações falsas na mesma ocasião. Meses antes do ocorrido, no dia 21 de junho, Bolsonaro hostilizou repórter após ser questionado por não usar a máscara de proteção contra à Covid-19, em visita à Aeronáutica.
Desde o início da candidatura do presidente do Brasil, insultos e constrangimentos a jornalistas, como os citados acima, estampam manchetes de jornais do Brasil e do mundo. As ofensas assinadas por Bolsonaro, retraram o avanço da intransigência no país. Conforme analisa a organização ‘Repórteres Sem Fronteiras’, em junho deste ano, houve um aumento de 74% nos ataques do presidente a instituições e profissionais do jornalismo em relação ao semestre anterior - 331 é o número de provocações contabilizadas de postagens em redes sociais, lives e discursos da família Bolsonaro.
Devido ao poder de influência que o mesmo tem em relação aos seus apoiadores, as manifestações do governante afetaram a confiança de parcela da população em relação aos profissionais do jornalismo. No Twitter, houve um aumento expressivo de publicações com hashtags de injúrias ao jornalismo do país, entre março e junho deste ano - segundo levantamento de dados realizado pelo Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS - Rio) e pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Esta, é uma organização não-governamental independente, fundada em 1985, tem importante papel na defesa e promoção da liberdade de expressão e de imprensa.
Polarização política
Lamentavelmente, casos como esses, de constrangimento e violência, são recorrentes no país e no mundo, e nos últimos anos, a polarização política evidenciou as discriminações já existentes. Segundo pesquisa realizada em 2019, pela Ipsos Mori, empresa inglesa de pesquisa de mercado, o mundo está mais polarizado do que há 10 anos atrás. No Brasil, cerca de 45% dos brasileiros entrevistados, concordam que o país está menos indulgente.
A candidatura do presidente Bolsonaro foi desenvolvida em oposição constante ao ex-presidente Lula e seu partido, futuro candidato à presidência do Brasil no próximo ano. As oposições ultrapassaram a diferença de posicionamento político e extrapolaram para ofensas preconceituosas e criminosas direcionadas às minorias sociais. Discursos de ódio, escancaradas manifestações preconceituosas e ataques a minorias da sociedade tornaram-se cotidianas por parte do até então candidato do PSL. Encorajados pela ausência de punições e, sobretudo, pelas atitudes do próprio, violências verbais ou físicas ocasionadas por seus defensores, também são cada vez mais frequentes. Em 2019, primeiro ano da candidatura de Bolsonaro, o presidente usou falas homofóbicas direcionadas à jornalista, durante entrevista. Neste mesmo ano, segundo a ONG brasileira Words Heal the World (Palavras Curam o Mundo), o Brasil registrou mais de 12 mil crimes de ódio - dentre eles, o mais comum foi o racismo.
Os casos expostos acima preocupam tanto por sua essência na realidade atual, quanto pela visualização de piora de cenário num futuro próximo. A disseminação de informações falsas e o evidente aumento das hostilidades à imprensa, marcaram as últimas eleições no Brasil e impulsionaram discursos de ódio, sendo esse um dos fatores para a diminuição da tolerância no país.
Combater a disseminação de notícias falsas é um caminho para visualização honesta da realidade. Profissionais e pesquisadores das mídias defendem a responsabilidade compartilhada de Estado, plataformas digitais e usuários no combate à difusão de notícias falsas. O “Senado Verifica: Fato ou Fake?”, a “Agência Lupa” e o “Fato ou Fake” são alguns dos serviços focados na checagem de informações jornalísticas.
Texto por: Luana Farias
Fontes
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59118800
- https://noticias.uol.com.br/videos/2021/09/21/bolsonaro-abre-discurso-na-onu-com-ataque-a-imprensa.htm
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-58645125
- https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/questionado-por-nao-usar-mascara-bolsonaro-manda-reporter-calar-a-boca/
- https://www.cartacapital.com.br/politica/ataques-de-bolsonaro-a-imprensa-aumentam-74-em-2021/
- https://rsf.org/pt/noticia/ataques-ao-jornalismo-se-alastram-nas-redes-rsf-e-its-registraram-meio-milhao-de-tweets-contendo
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/12/20/entidades-de-jornalistas-protestam-contra-ataque-de-bolsonaro-a-reporteres.ghtml
- https://www.camara.leg.br/noticias/796855-especialistas-defendem-responsabilidade-compartilhada-no-combate-as-fake-news/
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/07/liberdade-de-imprensa-o-senado-no-combate-as-fake-news
Comments