top of page
  • Cendhec

Com lembranças, músicas e amor, o auditório Luis Tenderini é inaugurado no Cendhec





“O que significa abençoar uma coisa já tão sagrada? O que quer dizer dar uma benção aqui? Esse auditório foi feito para o quê? Foi feito para isso que estamos fazendo: reunir as pessoas; para que o Cendhec possa continuar o seu trabalho e divulgar sua mensagem. Tem algo mais abençoado que isso? Como você vai molhar água? Como acrescentar água ao mar?”, disse o Monge Marcelo Barros. O beneditino, escritor e teólogo brasileiro foi convidado, junto a Iyágbàsse do Terreiro de Mãe Amara, Vera Baroni, para celebrar a abertura do Auditório Luis Tenderini, realizada na última sexta-feira, dia 05 de agosto.

Levando o nome do sócio-fundador do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social, que se encantou no dia 01 de julho de 2022, o espaço foi inaugurado na presença de sua família, amigos e companheiros de caminhada em prol dos direitos humanos. A cerimônia foi embalada pelas músicas preferidas do conselheiro diretor, interpretadas por Heloísa Maria, Ramos Barbosa e Glauber Henrique, que andaram lado a lado com Tenderini e o Padre Reginaldo Veloso, representante da Teologia da Libertação que também partiu neste ano.


“É uma honra imensa estar aqui na homenagem a esse irmão. Quando Luis chegou a Recife, uma das primeiras casas que ele visitou foi a minha, lá no Córrego do Jenipapo. Esse momento foi de grande alegria, por recebê-lo. Nós fizemos um sonho juntos, sonhamos que iríamos comprar um terreno em Camaragibe”, relembrou Vera, advogada sanitarista, fundadora do Uiala Mukaji e coordenadora da Rede de Mulheres de Terreiro PE. “Nós compramos esse terreno, sonhando em cada um construir sua casa, criarmos nossos filhos em comunidade e termos uma base para que pudéssemos crescer coletivamente, porque tínhamos o mesmo sonho: o sonho de justiça. Para nós, sem justiça não existe paz. Nós sonhávamos com o reino de Deus, e acreditávamos que ele deveria estar aqui, próximo.”


A sede do Cendhec, na Madalena, foi tomada por emoção, lembranças e a sensação de agradecimento, de cada uma e cada um, por ter convivido com o italiano de voz calma e alma borbulhante. A sua família dividiu com os presentes a experiência de ter conhecido o ativista no seu estado mais íntimo e garantem que o principal sentimento, ao lembrar de Tenderini, não pode ser tristeza.




“Vovô foi lá para o céu, mas continua com a gente. A gente não precisa ficar triste porque ele foi embora, ele ainda está com a gente. Ele é uma luz no coração de todo mundo, ele é o homem mais legal que já conheci na vida”, disse Laura Tenderini, neta de Luis. Pouco tempo depois, a menina confessou que, mesmo que a sua família seja apaixonada por refeições e grandes almoços com todo mundo ao redor da mesa, “vovô era melhor do que comida”.


As filhas também fizeram questão de homenagear o pai. “É difícil da gente falar de uma pessoa que deixou tanto amor no mundo. Estou vendo aqui várias pessoas que fizeram parte da infância da gente, da nossa adolescência, da nossa juventude. Sabemos da importância que tiveram a minha mãe e meu pai. Eles fizeram diferença nesse mundo. Eles são representações de muito amor e muita luta. Porque luta e amor não são contrários, são sinônimos”, disse Helena Tenderini. “Precisamos ter força, ter garra, mas também saber que se muda o mundo com delicadeza.”


Para Anaê Tenderini foi uma sensação única estar em um local onde tantas pessoas foram tocadas pela luta do seu pai. “Estou me sentindo rodeada de tios. Mesmo que eu não tenha convivido fisicamente com todos aqui, ao escutar os nomes de vocês lembro de histórias que meu pai contava. Estou me sentindo aconchegada por ter aqui tanta gente que fez parte da nossa história, que faz parte e que eu espero que continuem fazendo, porque me sinto muito bem com todos vocês aqui.”


Já Sara Tenderini escreveu e declamou um poema:


Agosto
A gosto de quem estou aqui?
A gosto de quem?
Ah, gosto de gente...
Ah, gôsto de gente...
Sim, gente é o que move a vida de Luis
Por elas, ele vive
A vida... de Luz
Agosto de idas e vindas
Parte o Dom, parte a dor,
Chegamos a Emaús,
E se reinicia o caminho, a alegria
Agosto chega,
A gosto da luz,
A gosto da vida

Dom Helder, Presente!
Luis Tenderini, Presente!
Agora e sempre!

Viúva de um amor que nunca irá morrer, Missimere da Conceição estava emocionada. “Sou muito grata por ter feito parte dessa família, por cuidar de Luis até a última hora. Até quando ele se foi falando para mim: “Meu amor, eu te amo eternamente.” Foram as últimas coisas que ele me disse. Eu queria dizer para todos que ele foi o grande amor da minha vida. E que eu também o amarei eternamente.”





Representando o Cendhec, instituição para qual Luis dedicou 32 anos, outros membros do Conselho Diretor do Cendhec e sócios-fundadores da organização dividiram episódios do trabalho com o italiano. Entre eles estava Lúcia Moreira. A educadora fez questão de destacar a personalidade apaziguadora do ativista. “Ele tinha uma experiência de vida e conhecimento que o tornava professor informal de todos nós. Ele sempre pedia a palavra com delicadeza, nunca vi pessoa tão humilde. A gente esperava até o fim para ouvir a opinião de Luis, considerávamos ele um amigo”, disse a sócia-fundadora. “Esta é uma cerimônia, é uma festa, que Luis mereceu. E vai merecer para sempre, porque as pessoas não se acabam. As lições ficam e a gente vai passando, até sem querer”.


Além de Lucinha, participaram do momento Manoel Moraes; Célia Trindade; Salvador Soler; Marcelo Santa Cruz; Rejane Menezes; Jesus e Fernando, pelo Cendhec. Membros do Trapeiros do Emaús, da Comissão Justiça e Paz, do IDHEC, e de demais organizações sociais e movimentos que Luis Tenderini contribuiu, também compareceram.





A coordenadora adjunta do Centro, Katia Pintor, aproveitou a celebração para estender o convite aos amigos e amores de Tenderini, deixando claro que não só o auditório, mas toda a instituição é um local para o encontro de ideias e para a perpetuação da missão de vida do italiano. “Tenderine é inspiração. Pessoa mais que querida. Exemplo de amor transbordante, exemplo em vida da teologia da libertação, assim como um de seus mestres e amigo, o Dom da Paz. No Cendhec, como conselheiro, esteve presente com humildade, afeto, acolhimento e escuta. Fiel e comprometido com seu ideal de vida simples e dedicada, era de alma generosa e de jeito manso. Marcou profundamente cada pessoa que por aqui passou e que teve a oportunidade de conhecê-lo, ouvi-lo. Foi Tenderine quem puxou a comemoração de um novo ciclo com mulheres à frente, homem contemporâneo que era. Serei agradecida de guardar as lembranças desse homem doce. Desejo que ele permaneça vivo em cada uma de nós, em cada espaço que construiu. Que continue inspirando humanidade. À esposa, filhas, netas/os e aos trapeiros/as desejo que continuem a multiplicar o amor dele. No Cendhec, a casa é de vocês, cheguem e sintam-se à vontade.”




Legado



Nascido em 22 de janeiro de 1943, na comuna de Premana, na Itália, Luigi Tenderini ou Luis Tenderini, como preferia ser chamado, atravessou o Atlântico aos 25 anos e chegou ao Brasil, país que seria palco da sua luta em prol dos direitos humanos.


Ao desembarcar, Tenderini ambicionava continuar seu caminho de formação para sacerdote, caminho que foi modificado ao tomar ciência de que o Ato Institucional N° 5, um dos mais severos golpes da ditadura civil-militar, havia sido decretado. Pelo seu compromisso com o Evangelho e preocupação com os mais pobres, abraçou a justiça social e se prontificou a combater a opressão.


O italiano tornou-se metalúrgico, aderiu aos movimentos sindicais e populares, e participou dos movimentos operários católicos, assessorados por Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns, embriões da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina. Devido ao seu posicionamento, Tenderini foi sequestrado, preso e torturado, no DOI-CODI de São Paulo.


Mesmo assim, o ativista não se deixou fraquejar. Em Pernambuco, ao lado de Dom Helder Camara, amplificou vozes contra o regime, tendo participado e presidido, a convite do Bispo dos Pobres, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese do Recife. Em março de 1989, após denunciar na imprensa local a ação dos grupos de extermínio (esquadrões da morte), Luis sofreu outro sequestro e foi novamente torturado.

Tenderini espalhou sementes, sendo um dos fundadores do CENAP (Centro de Educação Popular do Nordeste), do CENDHEC (Centro de Estudos Dom Helder Câmara) e o Trapeiros de Emaús Recife, uma das 400 comunidades Emaús espalhadas em 40 países do mundo.





Luis recebeu, da Presidência da República Italiana, o reconhecimento “Estrela da Solidariedade” e a honorificência de cavalheiro. Pelo Trapeiros de Emaús, obteve o Título de Utilidade Pública Municipal, concedido pela Câmara de Vereadores do Recife, a Medalha João Alfredo, do Tribunal Regional do Trabalho e a Medalha Leão do Norte, Mérito Ambiental, da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.


“Eu tive o privilégio de conviver com Dom Helder durante cinco anos, no dia a dia da Igreja das Fronteiras. Era um privilégio e uma responsabilidade. Ao conviver com ele, aprendi o respeito com a pessoa humana, seja ela qual for. Aprendi sobre a luta contra a miséria e injustiça. Aprendi a lutar pela paz, não somente na cidade, mas no mundo inteiro. Sou muito grato a ele, e vivo esses aprendizados como a responsabilidade de continuar trabalhando nesta mesma linha. O Cendhec é um espaço para isso, para continuar lutando na defesa dos Direitos Humanos e na defesa da justiça e da paz. É o grande legado que nos deixou Dom Helder”, disse Luis Tenderini, durante entrevista para o Cendhec em março de 2021.


Assista à cerimônia completa:





Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page