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Com lançamento de antologia, escritores de Águas Belas celebram raízes do Nordeste

O Dia Nacional do Livro é comemorado, no Brasil, em 29 de outubro

Foto: Reprodução/Pixabay

A literatura possibilita sonhar e imaginar. Esses sentimentos, além de tudo, podem oferecer alento em meio à dureza dos dias. Esse acesso, permeado pela educação e pela cultura e unido à luta pelos direitos humanos, revoluciona os cenários literário e social. Afinal, ler autoras e autores nacionais é, também, uma forma de reivindicar seu espaço e sua trajetória.


Nesse sentido e em alusão à celebração do Dia Nacional do Livro, visitamos o interior do estado para conhecer as narrativas do município de Águas Belas, agreste de Pernambuco, que lança, em breve, a III Antologia Aguasbelense: sob o luar do sertão - o Cangaço.


Idealizado, organizado e planejado pelos escritores Edmilson Sobral e Valdemira Albuquerque, o livro marca a terceira publicação da Academia Aguasbelense de Letras (AABL), que visa a inclusão da escrita para todos. “A nossa preocupação é com a produção textual e a valorização dos escritores. Apesar de alguns autores já serem participantes de várias publicações, esta é a primeira de muitos”, explica Sobral.

Foto: Reprodução/AABL

Este ano, o cangaço é o protagonista do tema, em decorrência dos 85 anos da morte de Lampião. A preferência em não ser um tema livre estimula a quem escreve, como expõe o organizador. “Eles têm o desafio de descreverem as várias nuances desse período, com suas histórias, poesias, contos, cordéis, abordando a violência e as vivências, tanto do cangaço, quanto das volantes”, aponta.


Para Valdemira, que também é a presidente da AABL, este é o momento de tirar os sonhos da gaveta.

“O lançamento traz uma sensação de realização, tanto para os coautores e para a AABL, quanto para Águas Belas. É a oportunidade de ter seu escrito reconhecido”, declara.

O mesmo sentimento é compartilhado com Betinho de Saubara, que desde 1985 publica seus textos, e teve interesse em contribuir com a narrativa. “Gosto imensamente de retratar e valorizar a História e a Cultura do guerreiro e sofrido povo sertanejo, tão rico em crenças, costumes e tradições”, diz. Apesar de ser natural do estado da Bahia, participa sem dificuldades, uma vez que a obra é aberta para todo o Brasil. Quando perguntado sobre o seu sentimento em relação à publicação, não hesitou: “O lançamento de um livro é semelhante à chegada de uma criança, isto é, o nascimento de um filho. É a realização de um sonho”, continua.


Por vezes, a literatura, impulsionada ainda na escola, proporciona reconhecimentos internos. Foi o que aconteceu com Alba Silva, natural de Aracaju e acolhida por Pernambuco, onde estão as raízes de seus pais. O apoio e incentivo da professora Cida Quelé, ou tia Cida, como ela carinhosamente chama, mudou a sua percepção de escrita. “Ela era a minha professora de Língua Portuguesa e nos motivava a ler. Em um projeto desenvolvido na escola, comecei a escrever. É muito bom saber que podemos fazer algo e expressar nossos pensamentos em palavras”, conta. O suporte não parou por aí. Novamente, a professora foi responsável pela submissão de Alba nesta antologia. “Eu não tinha finalizado o texto. E com mais um incentivo dela, consegui. Ela é a minha base na literatura”, relata.


Cida Quelé, além de professora, também é escritora. Atualmente, tem dois livros solos de microcontos e participa com afinco desta publicação. “Sinto prazer em escrever e não quis ficar de fora desse momento importante para a divulgação da escrita em nossa cidade”, expressa.


O lançamento ocasiona o reconhecimento do lugar, marcado pela manifestação da cultura. No entanto, a falta de investimentos acarreta na dificuldade de publicação.

“Nosso desafio ainda é fazer cultura sem recursos e sem incentivo. Para que existisse essa coletânea, utilizamos o financiamento coletivo, que acontece com a maioria das antologias. Precisamos trabalhar unidos com os demais autores para que esse projeto se tornasse realidade”, atesta Sobral.

Ainda assim, o esforço é recompensado, uma vez que a literatura se torna guardiã da história e ilustra a resistência coletiva das populações. “Esta antologia origina-se na intenção de eternizar os escritos e partilhar as lembranças conjuntas que permeiam as nossas raízes. A Academia Aguasbelense de Letras (AABL) convida a todos a mergulhar nas palavras e sentimentos apresentados a cada texto que objetivam a contínua ondulação das narrativas impulsionadoras”, finaliza a introdução da obra.



Texto: Maria Clara Monteiro/Cendhec


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