Jornalistas vivem sob ataque e ameaças durante o governo Bolsonaro
Segundo pesquisa divulgada pela Federação Nacional dos Jornalistas em janeiro deste ano, a violência contra profissionais da comunicação e a liberdade de imprensa bateu recorde em 2021, com 430 casos registrados. No ano anterior o número já havia aumentado em quase 106%. No entanto, para além do crescimento significativo dos ataques, o dado destaca e desperta um alerta quanto a 147 desse total, sendo estes de autoria do presidente Jair Bolsonaro.
No último dia 30, ocorreu o mais recente insulto em entrevista à imprensa de Recife. "Mídia sempre tem lado, o lado da bandidagem", disse o atual presidente da República em menção à cobertura do caso Genivaldo, homem morto em uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, em Sergipe.
Autor de 34,2% dos discursos de ódio, assédios morais, xingamentos e censura a jornalistas no ano passado, Bolsonaro lidera uma onda que ganhou força desde sua eleição, em 2018. Ao ser contrariado ou apenas questionado sobre temáticas que lhe dizem respeito, seja pelo envolvimento, por alguma decisão que tomou ou dada sua posição de responsabilidade com o país, frequentemente o governante responde com ofensas, ou desdém, e foge das devidas perguntas.
Hoje, 7 de junho, é comemorado o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. A data relembra manifesto assinado por quase 3 mil jornalistas, em 1977, que exigiam o fim da censura e restrição da liberdade de informação. Naquele período, o país vivia um dos momentos mais violentos do regime militar, com o AI-5, o ato institucional que evidenciou o autoritarismo dos governantes durante a Ditadura.
Após 34 anos da redemocratização, o país vivencia regressões consideráveis. Os episódios de agressão cada vez mais frequentes e intensos por parte de autoridades, permitem que pessoas alinhadas com o discurso sintam-se ainda mais à vontade para reproduzi-lo e, consequentemente, expõem e geram insegurança aos profissionais de comunicação. Em ranking mundial de liberdade de imprensa entre 180 países avaliados, o Brasil ocupa a 110ª posição. A pesquisa é da organização Repórteres sem Fronteiras que analisa a liberdade dos jornalistas para desempenhar sua função. Segundo o relatório, os episódios no Brasil são cada vez mais visíveis e violentos “Os ataques públicos enfraquecem a profissão e incentivam ações legais abusivas, campanhas de difamação e intimidação, especialmente contra mulheres, e assédio online a jornalistas críticos”, pontua.
O documento que exigia o fim da censura em 1977, publicado no Boletim da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), denunciava a apreensão de edições inteiras de periódicos, a omissão de informações por parte do governo e a perseguição a profissionais da categoria. Na atual conjuntura do país, diante de sucessivas crises (políticas, econômicas e sanitárias) e seus efeitos, é de suma importância salientar o agravante no cenário de insegurança aos jornalistas e a urgência por transformação. A perseguição do atual presidente da República a profissionais da comunicação se tornou cotidiana, mas não deve ser naturalizada. A informação é um direito constitucional e qualquer ameaça a este, além de ser uma ameaça à democracia, é crime previsto na Lei de Imprensa e no Código Penal.
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