Nota Pública | Do Desastre ao Natural

Os efeitos das chuvas que ocorreram na Região Metropolitana do Recife, nos últimos dias, fizeram vítimas e deixaram rastros de destruição por onde a água passou. Mas, para além de um fenômeno climático, quais as causas e os responsáveis, de fato, por todo prejuízo causado? O Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec) fez essa reflexão e compartilha na Nota Pública:

Do Desastre ao Natural

Nos tempos de chuvas, impera nas mídias e nos posicionamentos dos Órgãos de Governo, a narrativa do “desastre natural”. O Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec), denotando todo o pesar pelas 22 vítimas fatais das chuvas ocorridas na Região Metropolitana do Recife, em 2019, denuncia que as causas dessa tragédia são bastante humanas, e, portanto, políticas, uma vez que tratam-se de decisões sobre o uso e a ocupação do solo.

A chuva, apesar de natural, tem a extensão de seus danos derivada da escolha de políticas públicas. O fato é que propagandas de governo das gestões locais apontam para trabalhos nos morros e assentamentos, que não se depreende na prática. Quais as áreas atingidas? Quem são as vítimas? São perguntas de partida que evidenciam o recorte: o da desigualdade. O que vemos por parte dos Governos Estadual e Municipais são tímidas políticas públicas de habitação, regularização e planejamento urbano.

Na capital do estado, por exemplo, onde se tem uma cobertura florestal de 19%, vemos a proposta do Plano Diretor privilegiar o adensamento urbano dissociado de iniciativas para uma cidade resiliente e sustentável. Entenda-se: o que presenciamos não é um “desastre natural”, mas, sim, uma tragédia anunciada pela ausência de políticas públicas de habitação como ação estruturante para se evitar as mortes e a insegurança habitacional.

Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec)